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The Riders Histories
Histórias

Elspeth Beard a mulher que deu a volta ao mundo de moto

Se cruzar o continente americano com três amigos em uma Marajó já foi considerado loucura, imagine dar a volta ao mundo sozinha em cima de uma motocicleta. Pois foi exatamente o que fez Elspeth Beard, há 35 anos.

Em sua BMW R 60/6 Boxer, a jovem de 23 anos cruzou fronteiras militares, enfrentou dois acidentes e viu os papéis da viagem serem roubados no meio da estrada.

As fotos, fitas e jornais de sua história ficaram guardados no fundo de um armário de louças por 35 anos.

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Elspeth Beard estava no terceiro ano de arquitetura e trabalhava de garçonete em um pub no centro de Londres. Depois de alguns meses, ela conseguiu juntar o equivalente a cerca de R$ 13 mil para iniciar sua viagem. Como companheira, comprou uma BMW R 60/6 Boxer usada, com mais de 48 mil quilômetros rodados por um valor equivalente a R$ 6 mil.

América e Oceania

Sua jornada começou em Nova York. “Para levar a moto, tive que pagar 175 libras (cerca de R$ 1.170). A minha própria passagem foi 99 libras (R$ 660)”. Ela primeiro subiu em direção ao Canadá e, na volta, foi até o México e de volta para Los Angeles. De lá, pegou um voo para Sidney, onde ficou por sete meses e fez trabalhos de arquitetura para ganhar experiência (e, é claro, mais dinheiro para seguir viagem).

Foi em sua passagem pela Austrália que ela sofreu seu primeiro acidente, em uma quase vazia estrada empoeirada rumo a Townsville, em Queensland, noroeste da Austrália. Apesar de vários arranhões, Beard não quebrou nenhum osso.

Depois de duas semanas no hospital, ela estava abalada, mas determinada a seguir viagem. Ela cruzou o Leste da Austrália e o deserto central (popularmente conhecido como “outback”) em direção à costa Oeste.

Ao final dessa viagem, a arquiteta embarcou para a Indonésia. O único problema de percurso foi que a moto deveria ir de barco, ambas se encontrariam novamente em Singapura.

Na Ásia, os papéis roubados

O segundo problema da viagem aconteceu ao chegar na Ásia: todos os seus documentos, vistos e até registro da moto foram roubados, o que a fez ficar seis semanas a mais do que o programado para reaver todos os papéis.

Depois, Beard foi para Malásia e Tailândia, em direção a Bangkok, depois para a cidade de Chiang Mai e seus templos budistas centenários e participou de cerimônias no Triângulo de Ouro, região montanhosa com arquitetura única.

Seu segundo grande acidente foi na estrada de Penang para Madras. Um cachorro perseguindo um caminhão entrou em seu caminho, o que a fez bater a moto em uma árvore, causando diversas lesões. Mas, novamente, nenhum osso quebrado.

Ela permaneceu na casa de uma família tailandesa que cuidou de seus machucados em uma enfermaria improvisada. Felizmente, eles não se importaram de acolher a estranha inglesa que havia batido na árvore de seu quintal.

“Eles não falavam nada em inglês e eu nem uma palavra em tailandês. Mas nós nos entendíamos por linguagem de sinais”, disse Beard.

Elspeth pensava que essa hospitalidade fosse espontânea e sem motivação aparente. Entretanto, a família havia conseguido o sustento por alguns dias devido ao incidente de Beard com o cachorro. “Eu entendi imediatamente porque estavam tão agradecidos por cuidar de mim: eu havia lhes dado um suprimento de comida para duas semanas”, afirma.

Conflitos na Índia

Recuperada e com sua R 60 consertada, ela pegou um navio para a Índia, em direção a Calcutá e Catmandu, no Nepal. Lá, encontraria seus parentes que viajaram para vê-la após quase dois anos. Eles ficaram chocados ao perceber o quanto ela havia emagrecido.

Mas foi em Catmandu que Beard encontrou um outro motociclista, um alemão chamado Robert, com uma BMW Boxer, que também estava fazendo sua viagem. Eles partiram para a Europa juntos.

Mas havia um problema para sair da Índia: o assassinato da primeira ministra, Indira Gandhi, em outubro de 1984, por seus guarda costas da etnia sikh colocou em toda a região do Punjab, na fronteira norte da Índia com o leste do Paquistão, em estado de alerta. A estrada principal foi fechada, e a passagem era feita somente com um visto especial.

Acontece que a capital Nova Delhi não estava preparada para emitir esse visto, o que dificultou a saída de diversos viajantes do país, inclusive Beard e seu amigo alemão. Se valendo de muita inteligência, ela conseguiu cruzar a fronteira sem precisar parar em nenhum posto da polícia.

Como aquela situação era nova na região, nenhum dos guardas sabia como deveria ou o que deveria conter o visto para permitir a passagem. Então Beard apresentava um papel de recibo ou carta aleatória e seguia sua viagem para o norte, saindo da Índia.

No Paquistão, o capacete-burca

Na chegada ao Paquistão, ambos deveriam cruzar o país em até sete dias, que era a duração do visto iraniano provisório. A região estava um caos em 1979, época da pós revolução iraniana e Beard estava fraca devido a hepatite, mal conseguindo ficar montada na moto.

Sua R 60 também já tinha um vazamento no motor, a transmissão estava falhando e os freios estavam gastos. A manutenção era barata e fácil, mas as peças eram difíceis de achar.

Para driblar a severa lei recém instaurada, que obrigava as mulheres usarem o hijab (pano de cabeça) ou a burca (que cobre totalmente o corpo), ela passava a maior parte do tempo com seu capacete, se passando por um homem. Finalmente, chegaram na fronteira com a Turquia, horas antes de seu visto expirar.

Pausa na Turquia e a “Estrada da Morte”

Quando Beard chegou na Turquia, ela precisava se recuperar urgentemente. Pesava 41 kg e sua moto precisava de peças, ou iria quebrar definitivamente. Passou um bom tempo recuperando suas forças e fazendo os reparos na sua R 60. Quando atingiu os 65 kg, partiu para desbravar a Grécia e o centro da Europa.

Foi uma viagem tranquila, segundo ela, pelas belas paisagens europeias. Tirando, é claro, o trecho da Iuguslávia, conhecido como “Estrada da Morte”.

“Era uma estrada de asfalto de duas faixas, sem proteção em nenhum dos lados. Nós constantemente encontramos caminhões que tentavam se ultrapassar e ocupavam toda a largura da estrada. Nesses casos, tivemos que dirigir na beira da estrada. Às vezes, havia até três caminhões, lado a lado, em uma estrada não pavimentada, e você tinha que desviar para uma espécie de acostamento”, conta ela.

Em casa

De volta à sua cidade natal depois de três anos e 56 mil km na motocicleta, Elspeth Beard terminou seus estudos e passou sete anos reformando uma torre de água da Era Vitoriana para transformá-la em um prédio residencial. Era um trabalho de dia inteiro, dividido com a criação do filho, que teve de cuidar sozinha.

Seu trabalho como arquiteta já recebeu sete prêmios e sua história já fora representada em inúmeros programas de TV e diversos artigos de jornal. Após 35 anos, ela publica o livro ‘Lone Rider’ (“Pilota Solitária”, em tradução livre), um livro sobre as memórias dessa viagem. Segundo ela, Hollywood já ofereceu uma proposta de fazer um filme sobre sua aventura.

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