Versão de pista da RD-350 “viúva negra”, moto fez sucesso nas competições nos anos 1970
Assim como a Fórmula 1 já dominou o cenário esportivo nas manhãs de domingo, principalmente no Brasil, quando nossos campeões ainda participavam dos campeonatos mundiais, agora é a vez de outro esporte a motor, bastante radical, atrair torcedores. O MotoGP , que além da acirrada disputa entre os pilotos ainda deslumbra a audiência com um balé de incrível precisão, também tem a sua história.
Foi no ano de 1969 que levamos a motocicleta com a qual fazíamos curvas na Cidade Universitária – eu na garupa, logicamente –, à cidade de Ribeirão Preto, no interior paulista, para participar de uma corrida de rua. A motocicleta em questão era uma Ducati 250 , de rua, original, mas já com todas as características de uma motocicleta de pista, como, por exemplo, o guidão Tomazelli.
Naquela prova de estreia, as “Duas Horas de Velocidade”, a maioria dos participantes tinham motocicletas italianas e inglesas, mas algumas japonesas especiais de competição já faziam as suas primeiras aparições. Foi quando vimos a primeira Yamaha TD-1 , motocicleta especial de competição produzida na própria fábrica dos modelos de rua.
O piloto era Gualtiero Tognocci, um conhecido campeão de motocicletas. Ao seu lado, outro campeão, Salvatore Amato, também com uma Yamaha TD-1. Mas as velhas de guerra ainda estavam lá, como a Norton Manx de Francisco Sircilli, a Ducati 250 de Adalberto Ayres, o Chupeta, e uma que até me amedrontou, a Ducati 350 Desmodrômica de Luiz Latorre.
Arquivo pessoalExpedito Marazzi e a Yamaha TZ 350 de Eugênio Handa
As novas motocicletas japonesas eram lindas e incrivelmente rápidas. Mas nenhuma chegou ao final da prova, pois não suportaram o fortíssimo calor interiorano daquele dia. Em primeiro lugar, Luiz Latorre, com Ducati 350 e, a surpresa, em segundo lugar, meu pai e sua Ducati 250 de rua.
Na segunda corrida, também nas ruas de uma quente cidade no interior paulista, Araraquara, aconteceu a mesma coisa, as Yamaha TD-1 ainda não estavam bem adaptadas ao clima tropical, de forma que nossa Ducati chegou em terceiro lugar.
A partir do ano seguinte, o Autódromo de Interlagos voltou a funcionar, depois de dois anos fechado para uma reforma interminável. E também a partir daí, as Yamaha TD-1 e TD-2 , de 250 cm3, rapidamente começaram a dominar. E as europeias praticamente sumiram das pistas.
Depois das TD, chegaram as TR-3 , com motor de maior cilindrada, de 350 cm3. Gualtiero já tinha uma dessas e vendeu sua TD-2 para meu pai, que começou a correr com ela em Interlagos, ao lados dos velhos pilotos e dos novos, como Tucano e Denísio, em começo de carreira.
A evolução natural veio com a Yamaha TR-3, bem mais rápida, nas provas seguintes. As duas motocicletas eram iguais de quadro e suspensões, diferindo apenas no motor maior e mais potente. Para ser uma motocicleta acessível, muito componentes eram comuns às motocicletas de rua da marca. Mas a evolução foi mais rápida e ele logo teve que trocar sua TR-3 pela novidade que havia acabado de chegar: a Yamaha TZ 350.
A Yamaha TZ 350 era a evolução de TD e TR, com um diferencial de peso: a refrigeração a água. Para continuar sendo acessível aos pilotos, a TZ também compartilhava componentes com a sua versão de rua, que na época já era a temível Yamaha RD 350 , conhecida como “viúva negra”. Mesmo com menos da metade da cilindrada, essas motocicletas, tanto a versão de rua quanto a de pista, historicamente davam muito trabalho às motocicletas muito maiores, de 750 cm3 ou mais.
A Yamaha TZ 350 era tão melhor que suas antecessoras, e também que suas rivais, que, em seu primeiro ano, o piloto Jarno Saarinen venceu as 200 Milhas de Daytona com uma delas, derrotando todas as motocicletas maiores e mais potentes. Foi isso que consolidou sua fama e tornou a Yamaha TZ 350 um grande sucesso.
As primeiras Yamaha TZ 350, de 1973 a 1975 (TZ 350 A e TZ 350B), eram idênticas às TD e TR, inclusive com suspensão traseira de dois amortecedores e o enorme freio dianteiro a tambor. A única diferença era a refrigeração a água. Nas versões seguintes, de 1976 a 1978 (TZ 350C, TZ 350D e TZ 350E), a TZ já vinha com o freio dianteiro a disco e a suspensão traseira monoamortecida.
Na terceira geração, de 1978 a 1982 (TZ 350F, TZ 350G e TZ 350H), a Yamaha TZ 350 já tinha quadro melhorado e mais leve, e a partir de então a motocicleta não receberia mais melhorias, devido ao anúncio que a categoria de 350 cm3 não faria mais parte do campeonato mundial. Foi quando a Yamaha passou a investir na TZ 250, que continuaria como uma categoria no mundial. A primeira versão, a TZ 350A, de 1973, tinha 60 cv de potência e, última versão, a Yamaha TZ 350H, de 1981, tinha potência de 72 cv.
Atualmente, existe um campeonato mundial de motocicletas clássicas, o ICGP – International Classic Grand Prix, cuja maior estrela é justamente a Yamaha TZ 350. E temos um representante brasileiro, Bob Keller, que corre com uma Yamaha TZ 350 . No ano passado, ele sagrou-se vice-campeão na categoria.
Diferentemente de como ocorre o MotoGP nos dias de hoje, naqueles áureos tempos a categoria máxima do motociclismo não exigia investimentos vultosos para os pilotos e para as equipes, e isso foi fundamental para a consolidação da categoria e das equipes.
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fonte:https://carros.ig.com.br/colunas/cultura-da-motocicleta/2021-02-19/yamaha-tz-350-a-evolucao-da-moto-de-competicao-feita-para-o-piloto-privado.html?Foto1